Conheci o Karmo em alguns rolês e por meio de parceiros que fazem arte em comum. Sempre vi ele como um mano mais quieto, na dele. Trombamos algumas vezes em estúdio até que eu dei o salve pra gente construir algo. Às vezes era só questão de alinhar o momento. Karmo topou, selecionou os beats, e quando a gente precisou falar algumas coisas... simplesmente saiu. Foi natural — como a construção do EP.
Sobre “Tempestade”
O instrumental me remetia à sensação de mudança. E de fato, eu precisava mudar: hábitos, me reconectar, retomar o controle, elevar a autoestima, voltar a ter vontade. Pontos que foram se perdendo com o tempo.
O que temos feito pra nos conduzir até o lugar de sol, tempo aberto?
Como sair da tempestade?
Sobre a faixa "Jardim"
Eu morava numa rua que era uma descida; minha casa ficava meio que no alto, de frente pra uma praça gigante. Lembro de escutar o beat andando de cômodo em cômodo, até que parei, olhei pela janela, e veio a primeira frase:
“Eu vejo o vento batendo nas folhas, sou responsável, vou cuidar do jardim..."
Leio essas linhas e olho pra mesma praça novamente. Vejo que ela não estava bem cuidada. Estava abandonada. E me pergunto: como algo com tanto potencial de ser imensamente lindo pode acabar ruindo assim?
Minha perspectiva foi: preciso cuidar dos aspectos que são importantes pra mim. E pensei: o que estamos fazendo pra cuidar do nosso jardim?
Sobre “Hiato”
Lembro que precisamos de calma. Transições levam tempo. Viver não tem receita. Correções na rota são necessárias — e bem-vindas. O hiato não tem apenas pontos negativos.
O instrumental me conduziu a olhar pra trás. E só uma frase da minha mãe veio na cabeça:
“Eu crio filho pro mundo...”
Me deparei comigo mesmo, olhei ao redor. Mais um dia sozinho em casa, várias neuroses, umas contas, problema no trampo... Não é que eu tô no mundo mesmo? Ela fez certinho.
E assim escrevi Hiato. Eu já sentia que estava próximo de um momento como esse, mas dessa vez, com aprendizado.
Tento ser sutil, mas abordar temas que importam no dia a dia de qualquer irmão de vinte e poucos anos que não é herdeiro, que trampa o dia inteiro e corre atrás do seu.
Falo sobre como arquitetar um plano, como limpar conexões, lidar com o tempo ruim, sobre momentos importantes na relação com alguém que a gente gosta...
Percebi que além do meu jardim existem outros — outras pessoas, outras concepções. E que o exato momento pode dar significados diferentes a um único assunto.
A faixa-tema do EP, com a participação de Sadiki, retrata exatamente isso.
Neste mês de junho, esse trabalho tá na rua.
Um salve sincero a todos os envolvidos.
E aguardem no seu radinho..