nada disso é real
(literalmente) no meio do concreto pulsante de são paulo, onde as luzes nunca se apagam e ruídos são trilha sonora, nasceu "centro parte II". produzida pelo domrafa, acho que ela é instante fixado no tempo, uma despedida e uma declaração de amor em verso.
parte de uma narrativa maior, "centro parte II" chega antes da primeira, como se fosse o eco de algo. a estrutura é proposital: o presente sempre atravessado pelo passado e pelo futuro. ela reflete não só a história que conto como linha narrativa do meu texto (e vida), mas também o meu olhar que precisou romper com a ideia dessa linearidade.
"centro parte II" carrega um peso pesado. é uma canção de despedida, mas não de melancolia vazia. eu busco a profundidade ao cantar são paulo. e só compartilho quando tenho a certeza que a encontro. vivi ali por quase 15 anos. detalhes minuciosos do dom, os riffs de guitarra, o refrão em coro que é pra ecoar no peito e na mente. a cidade aparece não como um espaço fixo, mas como um organismo vivo, em transformação, espelho das minhas mudanças, cenário ambulante de fases, loucuras, delírios, e realidades.
eu nasci pra fora aqui
chão de asfalto, eu senti
prédios tortos, noites que assombram
depois que escrevi, ficou mais fácil aceitar que coisas acontecem, lugares (e pessoas) mudam, fins chegam e novos inícios são inevitáveis. a inevitabilidade da vida me conquista muito depois que o furacão passa. hoje me sinto mais inteira onde estou; que é onde devo estar. todo céu é um céu. todo centro é um centro.
agora já é tarde
cansei de olhar pra dentro
prefiro ver o teto
do céu em outro centro
essa música é mais um dos meus convites para ouvir com atenção sobre caminhos que se fecham - porque já foram percorridos - e os que ainda vão se abrir.
disponível em todas as plataformas desde o dia 24 de janeiro