Jay Beats x Lessa Gustavo - VIOLÊNCIA (EP)

instrumentais por Jay Beats ;

rimas e visual por Lessa Gustavo ;

mix/master por Mour.


o EP não começa. ele colapsa.


uma introdução feita de estilhaços, cortes secos, vozes roubadas de filmes que talvez ninguém mais lembre. jay beats empilha discos como quem monta uma barricada. o beat parece saído de um porão, amassado, mas ainda pulsando. é carta de intenção na unha: não tem refrão, não tem esperança, só o aviso de que daqui pra frente o chão afunda.


ilha de plástico não é faixa, é bilhete deixado por alguém que desistiu do mundo, mas ainda precisava explicar o porquê. lessa despeja uma poesia suja, mística e real num tempo só dele. mistura revelação e confissão. três quadros no muro {amor, família, vazio} e ele escolhe entrar no que não tem nada. vira imagem ausente. desce, morre, ressuscita podre de cansaço. nada de metáfora higienizada. “biodegradável ilha de plástico” é a volta amarga pro mesmo lugar que cuspiu nele. menos papo de crítica social, mais relato do que sobrou depois que tudo arrebentou.


o beat não carrega ninguém no colo. ele empurra.


o término desce num clima mais seco, mas não menos doído. um retrato em close da intimidade já sem afeto. não tem drama, tem cinza. o sexo já foi. o carinho, só na lembrança. o desleixo do outro vira cicatriz. tudo muito simples, tudo muito violento. como alguém que se corta e só percebe quando vê o sangue no chão. não tem final, só esse gosto amargo de coisa dita tarde demais.


então vem o deus verme só sai da toca nas trevas e aí o chão quebra de vez.


essa faixa é ritual. é delírio lúcido. lessa escreve como quem recebeu um código antigo e decifrou de olhos fechados. cada verso parece querer sair da carne. fala em manuscritos, mosteiros, puteiros, pragas domesticadas, bueiros estourando. mas não tem firula. é seco, matemático. tipo um sonho ruim que te segue no metrô. jay larga um beat denso, fundo, abafado. é caverna. a faixa é a espinha dorsal do EP, a parte que ninguém entende logo de cara, mas sente a porrada antes da explicação.


e aí chegam os créditos violentos.


não é o fim, é a cicatriz. jay volta com as colagens. fecha o EP como quem fecha um caixão. tudo feito com a certeza de que ninguém vai aplaudir no final. é só o silêncio voltando.


o VIOLÊNCIA é o tipo de projeto que não busca lugar na estante, mas no porão.



tracklist:

00:00 1- introdução violenta;

00:45 2- a ilha de plástico;

02:25 3- o término;

03:46 4- o deus verme só sai da toca nas trevas;

05:00 5- créditos violentos.


JODO x BANAL - feito em 2017, quando nada parecia brilhar em mesquita além das lâmpadas frias nos botecos.